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A mostrar mensagens de 2018

Black Mirror: Bandersnatch (2018)

Presente de fim de ano é o novo filme interativo Black Mirror: Bandersnatch, exclusivo Netflix, que permite ao espectador escolher o desenvolvimento narrativo, tomando controlo sobre o desenrolar da história. O argumento de Charlie Brooker e a realização de David Slade juntam-se para nos oferecer um brilhante thriller de ficção científica. O filme passa-se em 1984,  em Inglaterra, rodeado de referências que se encontram em cada esquina e plano,  desde a caracterização das personagens a todos os itens culturais que as rodeiam. Bandersnatch é o nome do jogo de aventuras que Stefan,  um jovem programador,  propõe à editora de videojogos Tuckersoft,  baseado no livro homónimo de Jerome F. Davis.  O último sucesso da editora fora Nohzedyve (referência ao episodio 1 da temporada 3 da série televisiva) e Bandersnatch é a próxima aposta. As nossas escolhas na história de Stefan começam por ser de pequena importância,  limitando-se a que cereais escolhemos para o pequeno almoç

Hannah Gadsby e a responsabilidade do discurso

Recentemente tivemos em debate na televisão portuguesa o Humor e as novas sensibilidades que o condicionam. Quando falam em humor, mesmo na presença de conceituados comediantes portugueses, como o Herman, Maria Rueff ou Luís Franco Bastos, entre muitos outros, não consigo evitar mencionar o espetáculo Nanette de Hannah Gadsby.  O debate, "Rir é o melhor Remédio" , no Prós e Contras, discutiu muito até onde pode ir o humor, nomeadamente o chamado humor negro, que faz piadas até com a maiores desgraças da humanidade, o qual teve como representante o polémico Rui Sinel de Cordes.  Hannah Gadsby, no seu discurso do evento The Hollywood Reporter: Women in Entertainment, fala de linhas. Da responsabilidade que temos nas linhas ideológicas que desenhamos e na história que contamos acerca de nós próprios. Se penso que as duas temáticas se relacionam é pelo facto de sempre se discutir quem é que tem o direito de dizer o que é aceitável ou o que não. Hannah Gadsby dá

Homecoming (2018) de Sam Esmail

Do criador da aclamada série de televisão "Mr Robot", Sam Esmail,  surge agora " Homecoming" que tem como cara ninguém mais nem menos que Julia Roberts.  Com uma fotografia e cinematografia de excelência a que o realizador já nos tem habituado,  conta a história de Heidi Bergmen, uma ex-terapeuta do projeto "Homecoming", da empresa de vanguarda Geist. À primeira vista,  "Homecoming" tem como objetivo ser um lugar seguro para militares com stress pós traumático recuperarem antes de ser devolvidos à vida civil.  Mas à medida que a história avança vamos descobrindo uma agenda muito mais obscura.  Sente-se uma certa atmosfera à la "Black Mirror" no argumento. O desenvolvimento tecnológico,  neste caso medicinal, e as questões morais e éticas que lhe estão subjacentes são um dos principais impulsionadores da tensão da narrativa. E por falar em tensão, é algo que está constantemente presente.

The Haunting Of Hill House (2018)

The  Haunting Of Hill House (2018), da Netflix, consegue juntar horror e drama familiar, resultando numa mistura que consegue sobressair ora pela história, ora pelos elementos sobrenaturais que apresenta.  É comum aos filmes e séries de horror faltar profundidade narrativa. Os monstros ou fantasmas ou espíritos ou o que for que se apresente tomam toda a atenção do ecrã, deixando muitas vezes as intrigas para segundo plano. The Hunting Of Hill House não peca por isso. Ás vezes até parece pecar pelo oposto, dando-nos a sensação de estar a assistir a uma espécie de novela.  Se isto se passa, penso que no final há um bom equilíbrio entre os dois factores. A história passa-se em dois tempos: o primeiro é a infância dos Crain, quando foram viver com os seus pais para Hill House, que ambicionavam recuperá-la e vendê-la fazendo uma enorme fortuna; e o segundo é a vida adulta deles, depois de terem vivido uma série de tragédias e tentando ter uma vida normal na sua adultez, nunca co

Pedro e Inês (2018)

"Pedro e Inês", de António Ferreira, adaptado do romance de Rosa Lobato de Faria "A Trança de Inês", não é um filme perfeito. Mas é sem dúvida um filme que abre a curiosidade sobre os caminhos que o cinema português pode trilhar. A história é das mais conhecidas da literatura nacional, porém é tratada de uma forma fresca e moderna que a reeinventa no nosso imaginário. O filme passa-se em três tempos principais, o passado, presente e futuro, ao que se adiciona um quarto, que é o futuro do tempo presente no qual se fecha a história desta linha narrativa. No passado, somos transportados à época medieval que deu origem ao romance. A caracterização do tempo e dos costumes está espetacular, com linguagem adequada, bastante acção e performances tão boas como as que conhecemos de imaginários idênticos a nível internacional. No presente, Pedro e Inês conhecem-se no gabinete de arquitectura do pai de Pedro, onde ambos trabalham, num cenário contemporâneo.

"As Crónicas de Gelo e Fogo" I a X

A minha prateleira Finalmente concluí os dez volumes literários de as Crónicas de Gelo e Fogo. Se escrevo isto com um sentimento de dever cumprido e de satisfação também o escrevo com uma certa nostalgia que dá vontade de começar tudo de novo. Cada linha chama pela próxima, e cada momento nos impele a querer saber mais. G.R.R.Martin consegue uma complexidade de enredo notável. Por vezes é tão povoado que se torna mesmo complicado de seguir. Porém, e mesmo tendo uma quantidade absurda de personagens com fortes personalidades, há uma vincada hierarquia de importância que nos conduz por todas as relações. Essa distinção é desde logo feita pelos nomes dados aos capítulos, que são dedicados às personagens principais. Em vários momentos cada uma destas personagens se encontra em partes diferentes do mundo e tem por isso um contexto específico, com um ambiente e outras personagens que os rodeiam. Assim, não são poucas as vezes que se sente que não estamos perante apenas uma

Shadow Of Tomb Raider (2018)

Shadow of Tomb Raider (Square Enix, 2018) situa-se na América do Sul e sucede a história do jogo anterior. Começamos com Lara Croft e o seu companheiro (durante toda a aventura) Jonah,  no México,  em plenas celebrações do Dia De Los Muertos e em busca dos agentes da Trinity na tentativa de parar o apocalipse Maia. Como já nos vimos a habituar desde sempre, jogamos com Croft em terceira pessoa, enquanto resolvemos puzzles, exploramos locais e batalhamos inimigos.  Apesar de não ter terminado o Rise of the Tomb Raider (2013),  muito devido ao update da ps3 para a ps4,  a nível de jogabilidade muitos elementos parecem-me comuns.  Os slides,  as escaladas, as setas que ligam montanhas, etc...  Inclusive as armas: arco é a arma inicial podendo-se depois fabricar vários tipos de setas,  usar a pistola,  metralhadora ou a shotgun à medida que o jogo avança. Apesar de não os achar no geral inovadores, os elementos são bastante diversos,  o que proporciona uma boa dinâmica de j

Coração Revelador (2018), curta metragem de São José Correia

"Coração Revelador" é uma curta metragem portuguesa da autoria de São José Correia. A curta tem 10 minutos e é inspirada no conto homónimo de Edgar Allan Poe. Em termos técnicos,  a realização é muito simples. Apresenta-se-nos,  na maior parte do tempo, em plano americano,  um sujeito que confessa um crime. Quem o personifica é Rui Neto,  com Marques D'Arede como vítima. Enquanto assitimos a tamanho relato,  somos pontualmente transportados em flashbacks,  que ilustram as cenas que nos são contadas,  levando-nos para dentro da preversa mente do narrador dos eventos. A grande pérola é,  porém,  o acting.  Rui Neto confere uma intensidade poderosa ao eventos que narra, conseguindo exprimir a mais sensivel dass emoções.  Choro,  raiva,  paranóia,  todas demonstradas no que é,  na maioria do tempo,  um plano estático,  apenas com um pontual zoom para um close up facial que confere dinamismo à cinematografia e os raros flashbacks a apoiar. O percurso da realizadora

Ni no Kuni II: The Revenant Kingdom (2018)

"Ni no Kuni II: The Revenant Kingdom" (Level 5) é uma explosão de cor, de doces relações, de incríveis lições morais e totalmente amoroso. Já o primeiro, "Ni no Kuni: The Wrath of The White Witch", foi a história que me fez voltar a apaixonar por videojogos.  A estética do universo mantém-se. Apesar do famoso estúdio Ghibli ter estado envolvido na criação do primeiro jogo, neste segundo a participação não foi tão evidente, não havendo mesmo menção do estúdio nos créditos. Mas foi Yoshiyuki Momose (um dos responsáveis pela animação em Porco Rosso e Spirited Away) que ficou responsável por desenhar as personagens e não há nada que, visualmente, distancie este jogo do primeiro.  Porém, A história de passa-se centenas de anos depois, mas em vários momentos é feita referência ao elementos do primeiro jogo.  Os familiars , uma das figuras que tinham sido centrais, neste jogo não existem. Essa foi uma das maiores desilusões pois um dos highlights tinh

Hellblade: Senua's Sacrifice

"Hellblade: Senua's Sacrifice" (Ninja Theory,  2017) é uma peça brilhante que conjuga uma temática profunda e muito bem trabalhada, a personagem principal, a jogabilidade a os ambientes visuais e sonoros numa experiência digna do tempo que pede. O jogo é relativamente curto, mas bastante intenso e já o queria jogar há bastante tempo. O que não falta é material a falar sobre a concepção do jogo e da criação da personagem, nomeadamente os diários que acompanharam toda a produção, pelo que me vou focar aqui nos assuntos que têm, para mim, maior interesse.  Senua é uma guerreira celta que sofre de perturbações mentais. Desde cedo vive com psicoses que são no jogo metaforizadas pela "escuridão" (ou darkness),  uma maldição que a persegue e se manifesta numa espécie de doença intravenosa que se vai apoderando do seu braço direito,  até chegar à cabeça. Não me considerando eu especialista no assunto, agradou-me imenso a forma como o tema da psicose é n

The Terror (2018) da AMC

The Terror (2018), lançada pela AMC, é um cenário impiedoso. Deserto de vida,  de ajuda,  de comida...  E até de moralidade.  A série passa-se em 1848, altura em que dois navios, The Terror e Erubus (que realmente existiram), ficaram presos no Ártico durante a expedição naval em busca da Passagem do Noroeste, tendo de enfrentar terríveis ameaças.  A história data a época da exploração britânica, quando o governo procura desesperadamente uma passagem para melhorar as suas rotas comerciais com a China e Índia. Apesar dos contornos históricos, elementos ficcionais e sobrenaturais são adicionados à narrativa.  A versão real dos acontecimentos não foi menos trágica. Os 129 marinheiros desapareceram juntamente com os dois navios,  que ainda hoje são procurados. Avisa-se que para melhor demonstrar o meu ponto de vista sobre The Terror não me inibirei de falar sobre os seus componentes pelo que haverá spoilers a partir de agora.  A primeira temporada desta série apresenta-se

Alpha (2018)

Alpha (2018) é o novo filme de Albert Hughes (Menace II Society, entre outros) que estreou nos cinemas NOS a 30 de Agosto.  A história faz o relato da sobrevivência de um jovem, na europa de há 20.000 anos, quando se perde da sua tribo e tem de fazer uma longa viagem de regresso a casa.  Se há coisa de que o filme se pode gabar é de uma cinematografia belíssima, com cenas de paisagens naturais que variam largamente de tonalidades. Porém, no início, o ambiente em que a história decorre causa uma certa estranhesa. Primeiro, o dialeto com que os personagens falam é um desconhecido, ao que se junta o facto de existirem mesmo pouco diálogos. As falas neste filme servem mais como impulsionadoras de ação do que qualquer outra coisa. Sendo uma história que retrata a relação de um humano e um animal, o lobo, pode ter sido uma escolha consciente uma vez que a ambas as espécies não é possível o entendimento verbal. Mas não sendo muito usual e não sendo por vezes esse espaço preenchido por

Garden Of Words (2013) de Makoto Shinkai

Foi com o seu mais recente filme, Your Name (2016), que fui introduzida à filmografia de Makoto Shinkai, que despertou curiosidade suficiente para tentar conhecer as obras prévias do realizador. Assim cheguei a Garden Of Words (2013) uma animação de 45 minutos que conta a história de Takao Akizuki um estudante japonês de 15 anos, aluno do ensino secundário cuja paixão é a de fazer sapatos. Takao encontra-se na transição da adolescência para a idade adulta, cheio de receios e ansiedades sobre o que futuro lhe guardará. E são essas incertezas que o fazem ficar fascinado por Yukari, uma rapariga mais velha e misteriosa com quem se encontra regularmente ao abrigar-se da chuva no jardim nacional de Shinjuku Gyon.   Se a ilustração de Your Name (2016) se provou lindíssima e digna de vários quadros, Garden Of Words (2013) não lhe fica atrás. Cores e contrastes fortes entre tons quentes e frios, light leaks que dão um ar etéreo a cada imagem, planos de detalhe que nos chamam con

Memórias do Boom Festival 2018

Bem acredito que palavras só não traduzam fielmente a experiência. Mas, agora, de regresso a casa, muito há que contar sobre uma semana passada nas margens da lagoa de Idanha-a-Nova,  na herdade a que se chama Boomland . Poucos são os festivais que se comparam na diversidade de áreas culturais e de entretenimento que o Boom Festival apresenta,  sendo que em Portugal não há nenhum que lhe sirva de comparação.  Apesar de existirem organizações de eventos imensamente competentes nas suas áreas,  no que diz respeito à cultura psicadélica e ao sentido de comunidade, o Boom é único. Este ano a celebração foi em honra à Sagrada Geometria, presente em toda natureza. Nos 7 dias de festival estiveram presentes pessoas de 147  nacionalidades diferentes fazendo com que,  mesmo em solo nacional,  a língua inglesa predomine,  sob o moto de "Love Has No Flag". Outro moto muito presente foi o de "Unplug to Connect" encorajando todos a deixar os ecrãs um pouco de lado

Kedi (2016) Na pele dos gatos de Istambul

Uma hora e tal de gatices fofas nas ruas de Istambul ao som de música tradicional turca? Yes please! Kedi é um documentário lançado em 2016 que segue a vida de sete dos imensos gatos que povoam as ruas da cidade turca. Pela dificuldade de tradução de miaus são pessoas quem dão entrevistas e testemunhos.  Mas desde de quando é que os gatos precisam de falar para se fazerem entender?! O documentário tem por vezes um ar amador mas não deixa por isso de ser totalmente gracioso. Seguimos 7 gatos de personalidade bem vincada nas suas caças diárias e as pessoas que os conhecem e os tratam com o maior cuidado e carinho.  Vim a saber que há, historicamente na cultura islâmica, um imenso respeito pelos felinos, podendo ser encontradas várias referências a estes animais nas suas escrituras. São conhecidos por serem muito limpos e por terem sido adorados por Maomé. Há uma passagem no filme que afirma que "Os gatos sabem da existência de Deus ao passo que os cães pensam que

Boom Festival 2018 - 22 a 29 de Julho

Foi em 2016 a minha primeira experiência no Boom Festival, em Idanha-a-Nova. Já tinha ido, ao longo dos anos, a festivais que aclamam ter a mesma filosofia mas nenhum tão completo e diverso nas atividades. Partilhei essa experiência num artigo que escrevi à data, deliciada com o que vivi lá:   " Boom Festival: um lugar de encontro entre o corpo, a mente e o espírito " . A duas semanas da edição de 2018 do festival, e com os preparativos já em marcha, invade uma enorme nostalgia e excitação. São 7 dias completos, com um programação extensiva, desde concertos a Dj's, workshops e palestras, exposições e espetáculos, entre muitas coisas. Para mim, a cereja no topo do bolo são duas aulas diárias de Aerial Yoga com a Jaya Yoga Team. Para quem quiser ter uma noção melhor do que o evento tem para oferecer existem montanhas de vídeos no youtube, dos quais sobressaem os seguintes documentários e webdocs: Boom Festival 2012 Film - The Alchemy Of Spirit

Quando o passado já não tem lugar no presente

Escrevi aqui no blogue, há uns tempos, uma review sobre " Patrick Melrose" ,  uma série britânica que explora como os traumas de criança da personagem principal afetam a sua vida adulta. Escrevi também sobre a peça de Hannah Gadsby, "Nanette"  , em que ela faz, num espetáculo de humor, uma brilhante argumentação contra a comédia como meio de lidar com situações traumáticas. A propósito destas coisas, e muitas outras que fui vendo e lendo, inclusive conversas com amigos e amigas, tenho-me questionado quando é tempo de pôr um ponto final e deixar certos traumas onde pertencem: no passado. Qual é a altura de deixar o passado no passado e até que ponto é que reviver situações desagradáveis é saudável para quem as viveu? A propósito disso, fiz uma breve pesquisa e deparei-me com um artigo de 2014 do The Guardian , que fala precisamente sobre isso e ilustra alguns dos pontos que já me têm surgido. Walter Mischel, mais conhecido pelo teste do Marshmallow, q

Beauty (1994) de Hubert Boulard

Coddie é uma rapariga pobre, muito feia e quase sem amigos. A sua vida é monótona e difícil e o seu maior desejo: ser tão bonita que ninguém pudesse questionar a sua beleza. Essa seria a solução para todos os seus problemas. Um dia, enquanto desabafa com um animal viscoso, solta uma lágrima de compaixão. Esse era o ingrediente necessário para libertar Mab, a fada cujo feitiço a imprisionara naquele animal. A título de gratidão, Mab concede um desejo a Coddie. Apesar de não a poder tornar bonita, pode mudar a percepção de todos os que a vêm. E assim Coddie passa a Beauty e toda a sua vida muda.  Porém, pouco a pouco, Beauty vai descobrir que Mab é a metade malévola de um par de irmãs, e começa a questionar se o presente que recebeu foi uma benção ou uma maldição. É uma banda desenhada cheia de boa disposição que nos questiona sobre o que será mais importante num ser humano. Tem personalidades femininas de contrastes fortes, o que cria uma dinâmica engraçada que salt

Nanette (2018) de Hannah Gadsby e a dor que o humor esconde

Desconhecia de todo Hannah Gadsby, mas bastou-lhe pouco mais de uma hora para me conquistar totalmente.  Nanette (2018) é o espetáculo mais recente da comediante australiana e explora o humor como forma de lidar com a dor, cristalizá-la, escondê-la e minimizá-la. É uma comédia que chama a atenção para a necessidade de não tratar como comédia temas sem piada, argumentando constantemente contra si própria. É uma chamada de atenção à auto-depreciação que, apesar de ter sido defendida por filósofos estóicos como uma das melhores armas contra o insulto, pode também ser nociva. Não será afinal essa uma reação de medo?  Não conheço os espetáculos anteriores da autora, mas pelo que conta fez carreira com piadas sobre os problemas da sua vida. Desde a dificuldade que teve em assumir a sua sexualidade numa pequena cidade da Tasmania, onde a homossexualidade era ainda considerada crime em 1997, à necessidade que temos de nos sentir inseridos em grupos e a todas as dificuldades que

"As Crónicas de Gelo e Fogo" de G.R.R. Martin - Livro I e II

Não era sem tempo de começar a ler os livros de um dos meus universos de fantasia preferidos. Já tinha lido alguns outros livros do autor, como "O Dragão de Gelo" (1980) e "Histórias dos Sete Reinos" (2013) que,  apesar de pertencer ao mesmo universo,  tem lugar cerca de 100 anos antes da história cuja narração se inicia em "A Guerra dos Tronos". Mas é nas "Crónicas de Gelo e Fogo" de G. R. R. Martin que me perco completamente. Esta crítica refere-se à leitura do primeiro e segundo livros da saga,  os que consegui até agora completar.  Convém salientar que antes de ler o livro já sabia que linhas gerais da história esperar.  Como já mencionei no blogue,  já vi a série televisiva a que esta história dá corpo no mínimo 3 vezes,  na íntegra.  Sendo a ressaca já grande e sabendo que mais não ia descobrir com uma quarta visualização completa,  lembrei-me que existem 10 volumes literários cujas palavras me eram desconhecidas. De oito ai

Patrick Melrose (2018)

A nova mini-série da Showtime, "Patrick Melrose", baseada nos livros do jornalista e autor britânico Edward St. Aubyn, conta, em 5 episódios, a história de vida de Patrick e da sua tentativa de superação da dependência de drogas. À medida que o vemos a batalhar com a toxicodependência, rodeado de luxos e de tentações, conhecemos os demónios que constantemente o empurram para o esquecimento, como a conturbada relação com o seu pai, de quem sofreu diversos tipos de abusos, ou com a sua mãe, da qual foi vítima de enorme negligência.   Benedict Cumberbatch dá vida a esta personagem neurótica, numa atuação brilhante, já muito esperada desde que a última temporada de Sherlock (2010) terminou. Cada episódio é recheado de bonitos planos e composições, de humor negro capaz de fazer soltar umas gargalhadas, uma boa banda sonora e também de emoções mais tristes que nos lembram que, apesar de toda a excentricidade, há nesta história uma enorme injustiça na educação de um

Beren e Lúthien de J. R. R. Tolkien

A história Beren e Lúthien é uma história de amor sublime, recheada de coragem e aventura, compromisso e aceitação. Neste livro, que nos apresenta a evolução da lenda de um amor gigante, somos apresentados a diversas versões. Numa primeira, Beren é um gnomo, termo usado para designar elfos inferiores, e numa segunda, é filho dos Homens. O que é constante é a controversa e difícil conquista da liberdade para amar entre Lúthien, cujo pai não aceita o amor a um ser inferior, e Beren, que se submete a perigosas aventuras para lhe provar o seu valor. Antes de mais, interessa saber que o livro, editado pelo filho do autor J. R. R. Tolkien, Christopher Tolkien, com agora 93 anos, conta a história que sempre serviu de reflexo à vida amorosa do autor. No seu túmulo e no da sua mulher, Edith, pode ler-se Beren e Lúthien em baixo dos seus nomes reais. É também a história original que se reflete no amor de Aragon e Arwen (que é descendente de Lúthien), em "O Senhor dos Anéis&qu