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Nanette (2018) de Hannah Gadsby e a dor que o humor esconde


Desconhecia de todo Hannah Gadsby, mas bastou-lhe pouco mais de uma hora para me conquistar totalmente. 

Nanette (2018) é o espetáculo mais recente da comediante australiana e explora o humor como forma de lidar com a dor, cristalizá-la, escondê-la e minimizá-la. É uma comédia que chama a atenção para a necessidade de não tratar como comédia temas sem piada, argumentando constantemente contra si própria. É uma chamada de atenção à auto-depreciação que, apesar de ter sido defendida por filósofos estóicos como uma das melhores armas contra o insulto, pode também ser nociva. Não será afinal essa uma reação de medo? 


Não conheço os espetáculos anteriores da autora, mas pelo que conta fez carreira com piadas sobre os problemas da sua vida. Desde a dificuldade que teve em assumir a sua sexualidade numa pequena cidade da Tasmania, onde a homossexualidade era ainda considerada crime em 1997, à necessidade que temos de nos sentir inseridos em grupos e a todas as dificuldades que daí se levantam. São muitos os temas que por este espetáculo passam.

Porém, o que me agrada, é que "Nanette" não se inibe de apontar dedos e de fazer acusações, com uma postura bem clara em relação à ignorância e defendendo-se. É um discurso forte e tenso, onde o riso e a fúria são sensivelmente equilibrados.

Defende constantemente o respeito por nós próprios e pelos outros e a necessidade de encarar as situações de forma a lidar com traumas (que muitas vezes dão origem às melhores comédias, ironicamente).

Hannah Gadsby usa as suss experiências da sua vida para ilustrar o seus pontos de vista, conseguindo  com isso uma conexão emocional fortíssima com quem a ouve. 

Muito humana, está aqui uma peça com que todos se podem identificar. O melhor mesmo será assistir. 




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