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"As Crónicas de Gelo e Fogo" de G.R.R. Martin - Livro I e II

Não era sem tempo de começar a ler os livros de um dos meus universos de fantasia preferidos. Já tinha lido alguns outros livros do autor, como "O Dragão de Gelo" (1980) e "Histórias dos Sete Reinos" (2013) que,  apesar de pertencer ao mesmo universo,  tem lugar cerca de 100 anos antes da história cuja narração se inicia em "A Guerra dos Tronos". Mas é nas "Crónicas de Gelo e Fogo" de G. R. R. Martin que me perco completamente. Esta crítica refere-se à leitura do primeiro e segundo livros da saga,  os que consegui até agora completar. 



Convém salientar que antes de ler o livro já sabia que linhas gerais da história esperar.  Como já mencionei no blogue,  já vi a série televisiva a que esta história dá corpo no mínimo 3 vezes,  na íntegra.  Sendo a ressaca já grande e sabendo que mais não ia descobrir com uma quarta visualização completa,  lembrei-me que existem 10 volumes literários cujas palavras me eram desconhecidas. De oito ainda o são.

O primeiro livro,  cujos capítulos se dividem por personalidades,  dedicados a Jon Snow,  Eddard Stark,  Daenerys Targeryan,  Arya Stark,  Bran Stark,  Catelyn Stark e Tyrion Lannister, introduz-nos a este universo lançando-nos sem piedade imediatamente para o outro lado da muralha. Pelos olhos dos Patrulheiros da Noite,  descobrimos os horrores que lá habitam pela primeira vez,  como eles próprios,  criando com eles uma grande empatia capaz de nos emergir no mundo fantasioso.

Já tenho comentado como esta técnica pode ser útil em storytelling,  principalmente no que diz respeito a histórias de fantasia e de terror.  Quando conhecemos o objeto que desafia a nossa credulidade ao mesmo tempo que os personagens, podemos identificar-nos com eles,  mesmo que o objeto em si ainda esteja longe de ser credível.

A riqueza das descrições e a profundidade com que conhecemos estas personalidades são de uma riqueza bem maior do que aquilo que nos faz chegar a televisão. Em vez de apenas ver, experienciam-se estas aventuras na primeira pessoa, dentro das mentes e dos sentimentos de cada um. Assim, podemo-nos sentir voyeurs das suas mentes,  dos seus conflitos internos e sociais, permitindo um conhecimento muito mais profundo dos motivos e razões de cada um.

A descrição física das personagens é muito diferente,  principalmente no que diz respeito a Tyrion e a Daenerys, assim como muitas personagens secundárias.

Os relatos dos acontecimentos esticam-se no tempo. Podemos conhecer as aventuras e desventuras de Arya no período em que Ned Stark está preso nas celas da Fortaleza Vermelha, o sofrimento de Sansa enquanto espera, o percurso de Catelyn, Jon, Robb, Tyrion e Daenerys no tempo intermédio dos acontecimentos principais.

Apesar de nestes dois livros ainda não haver diferenças maiores na história principal (pois é sabido que a partir de certa altura a história dos livros e da série televisiva tomam caminhos independentes), todo o texto presente nos livros que não foi transposto para imagem serve para aprofundar e cimentar a realidade que se vive de Westeros a Essos, o mundo conhecido.

Ainda assim, penso ser uma mais valia começar a ler os livros estando já tão familiarizada com a estética visual que se lhe confere. A vivacidade com que assim se vêem os relatos de Martin  é altamente potenciada.

Apesar disso,  muito mais explora o livro,  e há situações que são completamente diferentes.  Por exemplo,  o julgamento por combate de Tyrion Lannister em Riverrun (ou Correrio),  é na série televisiva apressado,  sendo iniciado mal ele o propõe,  na mesma sala de audiências em que Lysa Tully o recebe. No livro, há todo um festival preparado para o acontecimento. Este é só um de vários compromissos que tiveram que ser feitos na adaptação,  que até agora detectei,  e que pode ser usufruído em maior pormenor e minúcia na leitura.

Além de tudo isto que os livros têm para oferecer, ainda não se sabe que caminhos tomará a narrativa de G. R. R. Martin. Faltando apenas uma temporada para o fim de "Game of Thrones" (2011), prevista para 2019, e mesmo estando uma prequela a ser cozinhada, há que aproveitar todos os pequenos pedaços de informação e experiências que o mundo tem para dar.


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