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Beren e Lúthien de J. R. R. Tolkien


A história Beren e Lúthien é uma história de amor sublime, recheada de coragem e aventura, compromisso e aceitação. Neste livro, que nos apresenta a evolução da lenda de um amor gigante, somos apresentados a diversas versões. Numa primeira, Beren é um gnomo, termo usado para designar elfos inferiores, e numa segunda, é filho dos Homens. O que é constante é a controversa e difícil conquista da liberdade para amar entre Lúthien, cujo pai não aceita o amor a um ser inferior, e Beren, que se submete a perigosas aventuras para lhe provar o seu valor.

Antes de mais, interessa saber que o livro, editado pelo filho do autor J. R. R. Tolkien, Christopher Tolkien, com agora 93 anos, conta a história que sempre serviu de reflexo à vida amorosa do autor. No seu túmulo e no da sua mulher, Edith, pode ler-se Beren e Lúthien em baixo dos seus nomes reais.


É também a história original que se reflete no amor de Aragon e Arwen (que é descendente de Lúthien), em "O Senhor dos Anéis", e em que Arwen sacrifica a sua imortalidade para poder viver o seu romance.

Christopher adianta logo no início do livro que esta será talvez a última história que publica do enorme espólio de seu pai, ao qual dedicou muito da sua vida.

O livro mostra a evolução da lenda de Beren e Lúthien ao longo dos anos. Por isso, temos uma primeira versão, em que Beren é um gnomo, que nos é dada em prosa, e uma segunda, em que ele é filho dos Homens, em poesia. Os comentários de Christopher vão servindo de apoio à leitura mas, tirando a versão em prosa, que se lê de forma fluída e é de fácil encanto, torna-se um bocado difícil a compreensão da segunda, ora devido ao intricado uso de termos específicos, referenciados noutros livros do autor, ora pela sua inerente característica formal de verso. Além disso, conta-nos também o que as várias versões da lenda dizem sobre a continuação da vida do casal.

Mesmo gostando de poesia, ler poemas e ler uma história de grande pormenor como esta, é diferente. E com muita pena minha penso não ter a preparação necessária e o conhecimento da obra de Tolkien para tirar o melhor proveito dessa parte do conto. Ainda assim, é possível usufruir dele em camadas. Há certamente uma camada a que só quem tenha lido o Silmarillion e outros escritos pode aceder. Mas, ainda que se faça notar essa dificuldade, é possível o deleite nas descrições e relações que os versos contam. Para isso temos a ajuda da versão anterior em prosa e uma explicação que Christopher Tolkien cuidadosamente fornece no fim do poema. Apesar de por vezes me ter sentido perdida entre linhas e rimas, o remate feito é extremamente satisfatório, até para uma leitora casual do autor, como eu.

Como bónus, o texto vem acompanhado pelas belíssimas ilustruções de Alan Lee, que já ilustrou muitas outras histórias de Tolkien.

Ilustração relativa à entrada de Lúthien no território de Tevildo
(tirei uma foto disto mas esta digitalização tem melhor qualidade)

Tendo sido editada como uma história isolada de todo o restante universo do autor, mas fazendo-lhe inúmeras referências, penso que para além do valor que tem por si só, este livro pode servir para despertar curiosidade para os restantes livros de Tolkien em muitos leitores, assim como fez a mim.

Lúthien a dançar na floresta do reino de seu pai e Beren a observá-la, as aventuras a que os dois se submetem e os inimigos que derrotam, vão de certo passar a fazer parte das minhas mais belas noites de sonhos. 

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