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The Terror (2018) da AMC


The Terror (2018), lançada pela AMC, é um cenário impiedoso. Deserto de vida,  de ajuda,  de comida...  E até de moralidade. 
A série passa-se em 1848, altura em que dois navios, The Terror e Erubus (que realmente existiram), ficaram presos no Ártico durante a expedição naval em busca da Passagem do Noroeste, tendo de enfrentar terríveis ameaças. 
A história data a época da exploração britânica, quando o governo procura desesperadamente uma passagem para melhorar as suas rotas comerciais com a China e Índia. Apesar dos contornos históricos, elementos ficcionais e sobrenaturais são adicionados à narrativa. 

A versão real dos acontecimentos não foi menos trágica. Os 129 marinheiros desapareceram juntamente com os dois navios,  que ainda hoje são procurados.


Avisa-se que para melhor demonstrar o meu ponto de vista sobre The Terror não me inibirei de falar sobre os seus componentes pelo que haverá spoilers a partir de agora. 
A primeira temporada desta série apresenta-se em dois tempos,  o passado e o presente,  levando-nos entre flashbacks que melhor nos introduzem às motivações de cada um para embarcarem na expedição.

Inicialmente temos como personagem principal o Capitão John Franklin,  personagem interpretada por Ciarán Hinds (GOT, Harry Potter, etc...).  É ele quem lidera os marinheiros,  quem sempre quis participar na expedição,  é a alma da aventura. Porém essa liderança (tanto no navio como na história) vai depois sendo trocada várias vezes e de formas bastante inesperadas,  à medida que as necessidades inerentes às circunstâncias se tornam iminentes. Assim, a embarcação começa por ser uma de valores elevados: a pátria, a glória, a economia. Valores que vão parecendo cada vez mais inúteis aos marinheiros, à medida que o frio, a fome, a doença e a necessidade de sobrevivência gritam mais alto. São 3 as ameaças principais que enfrentam: o frio,  os próprios homens e Tuunbaq.

Tuunbaq é um monstro, guardião sobrenatural dos esquimós, comunidade que originalmente habita a região e cuja existência se põe em risco com a invasão de estrangeiros.  A sua origem deriva da mitologia tribal e apresenta-o como um espírito assassino, um consumidor de almas que nasceu de uma batalha dos deuses para depois ser exilado para as terras de gelo. A sua aparência facial apresenta-se estranhamente familiar, com traços humanos num corpo de urso. Apesar de no início ser confundido com um urso, os traços físicos e a forma de caçar são diferentes, o que o torna imprevisível e difícil de abater.


 A criatura caça brutalmente todos os que apresentam uma ameaça externa aos povos já ali habitantes, podendo com estes últimos criar uma relação de proteção.

Apesar de ser uma criatura horrível, não deixa de ser curiosa a forma como a a monstruosidade humana se lhe consegue superar. À medida que a comida escasseia e a doença prolifera, surgem personagens capazes de fazer de tudo para se manterem vivas. Destes, o mais intrigante é o criminoso que se faz passar por Mr. Hickey (Adam Nagaitis), e embarca à sucapa num dos navios para fugir de Inglaterra.
Mr. Hickey é um simples marinheiro cuja personalidade começa por não se demonstrar muito. Mas à medida que o caos de instala, ele toma-o como sua própria vantagem chegando mesmo a liderar outros marinheiros à traição e ao canibalismo. É o polo oposto de Francis Crozier (Jared Harris), nessa altura capitão da expedição, cuja ordem é "não deixar nenhum homem para trás" e é acusado de "amar mais os seus homens do que Deus".

Toda a dinâmica entre os personagens está muito bem conseguida, mostrando as ascensão e a queda do controlo, a dissipação das regras e hierarquias,  enquanto a lei do mais forte se impõe.

Tudo isto nos é transmitido através de uma composição e cinematografia fantásticas. São imensas as vezes que os planos se mostram inclinados,  técnica muito usada usada no género de horror para dar a sensação de que algo está errado.  A luz,  seja no brilhante deserto de gelo ou nos abafados interiores dos navios, tem um papel preponderante, enquadra-nos sempre no ambiente. E faz também o oposto. A partir de certo ponto a luz torna-se constante ao longo dos episódios, assim como os cenários desérticos, provocando uma forte sensação de se estar perdido no tempo e no espaço.

Além disso, visualmente há cenas extremamente gore, que não poupam minimamente o espectador. Violência gráfica é garantida e não aconselhada aos mais sensíveis. Eu própria dei comigo a contorcer-me um pouco a falar sozinha "Outra veeeeez?!". Mas vale a pena.



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