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"Para Lá do Inverno" (2017) de Isabel Allende

A minha relação com Isabel Allende começou ainda na adolescência com "A Cidade dos Deuses Selvagens" (2002) e desde então que tenho a autora em muito boa conta. Passei muito tempo sem ler nada seu, mas com "O Caderno de Maya" (2013) Isabel Allende voltou a conquistar-me e "Para Lá do Inverno" (2017) só vem confirmar o sentimento que tenho pela sua escrita.
"Para Lá do Inverno" (2017) é um livro mais maduro do que os tinha lido anteriormente, pois dá conta de vida de três adultos, Richard Browmester, Lúcia Maraz e Evelyn Ortega, cujos destinos de cruzam numa aventura inesperada que põe á prova a sua humanidade.

A construção das personagens é bastante detalhada, assim como a representação dos seus mundos interiores e toda a história nos fala de temas relevantes para a nossa atualidade social.

É uma história atual, passada nos EUA, em Brooklyn, Massachusetts, durante um furioso nevão que obrigou ao isolamento dos habitantes durante três dias.

Foi no início desse nevão que Richard Browmester, um professor académico solitário e um pouco frio, na casa dos 60 anos, que não se dá muito a relações a não ser com dos seus quatro gatos, Um, Dois, Três e Quatro, se viu obrigado a sair de casa para salvar um deles, levando-o ao veterinário para o curar de uma intoxicação. Após deixar o felino no consultório, ao regressar para casa, tem um acidente ligeiro com um Lexus no qual se encontrava quem depois descobrimos ser Evelyn Ortega. Sendo uma situação fácil de resolver, Richard volta para casa, e encontra-se com a chilena Lúcia Maraz, professora e investigadora na mesma instituição que Richard que é uma mulher sensível que procura a felicidade nas pequenas coisas e cujo maior sonho é encontrar o amor.

Não tarda a tocar a campainha, e quem o faz é ninguém menos que a rapariga do acidente, bastante mais nova do que os dois. 

Evelyn fala muito pouco e não explica o motivo da sua visita. Mas Lúcia  acolhe-a e tenta perceber o motivo daquela visita. É entre o som de  poucas palavras que percebe que a jovem é latino-americana.

Evelyn é uma trabalhadora ilegal original do Guatemala que, como muitos outros, se viu obrigada a fugir á violência do seu país e procurar trabalho nos EUA. Trabalha na residência de Frank Leroy, um obscuro empresário rico que ninguém sabe muito bem o que faz, que vive juntamente com a sua mulher Cheryl e o filho com paralisia cerebral, Frankie. O trabalho de Evelyn é cuidar do jovem Frankie, com quem tem uma relação ternurenta criada ao longo dos anos.

No desenvolvimento da história somos levados a conhecer o seu passado, assim como o de Lúcia e da sua filha Daniela e o de Richard, que explica muito do seu distanciamento social.

Os três são envolvidos num problema que têm de resolver juntos, dando origem a momentos de partilha e introspecção que nos levam até ao centro das suas crenças e personalidades. Além disso, e passando-se numa América com Trump em ascensão, coloca em evidência os problemas das minorias e do emigrantes, colocando-os no centro da narrativa.

"Para Lá do Inverno" faz jus ao seu nome porque é uma história sobre calor humano, e como pode ajudar a ultrapassar as mais difíceis situações. O livro termina com uma referência a Albert Camus: "No meio do inverno, aprendi por fim que havia em mim um verão invencível".

Nota em estrelas no GoodReads.


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