Avançar para o conteúdo principal

Penny Dreadful: a melhor série que ninguém fala (SPOILERZÃO)


Penny Dreadful (2014-2016) é uma das melhores séries que tive a oportunidade de assistir recentemente. Com uma participação excepcional da atriz Eva Green, no papel de uma católica devota que luta com todas as suas forças contra os seres demoníacos que assombram o habitat humano, a atriz interpreta na sua personagem a extrema luz e a extrema escuridão. Vanessa Ives, personagem a quem Eva Green dá vida nesta série de 27 episódios, é alvo de disputa tanto por Drácula como Lucifer, criaturas que querem governar a terra imersa em escuridão a seu lado. 

Criado por Josh Logan, todo o universo nos transporta para o romantismo presente na época. Seja pela linguagem cuidadosamente usada e preenchida por poesia, momentos religiosos e filosóficos, seja pela própria poética visual, com imagens sublimes de belíssima composição. 



O enredo passa-se em Londres na época vitoriana e dá vida a muitas personagens de ficção gótica. Sir Malcolm Murray (Timothy Dalton), Ethan Chandler (Josh Hartnett) e Victor Frankenstein (Harry Treadaway) são alguns dos acompanhantes/guardiões de Vanessa Ives na sua luta contra as sombras. Todos os personagens são muito bem construídos e coerentes no que os une: 

Sir Malcolm Murray é o pai de Mina, melhor amiga de infância de Vanessa Ives que foi sequestrada por Drácula numa tentativa de chegar até Vanessa. A relação de Malcolm Murray e Vanessa Ives parte dessa perda e sustenta-se muito na solidão que os dois sentem. Vanessa é vista como uma filha, que quase preenche o lugar de Mina (apesar de esta relação ser ambígua pois há sempre alguma relutância de Sir Malcolm devido à perda que sofreu) e Vanessa vê Sir Malcolm como um guardião, como uma das únicas pessoas que conhece a escuridão e sabe a culpa, medo e angústia que sente devido ao que sucedeu com a sua melhor amiga e a tudo o que enfrenta após esse acontecimento.

Ethan Chandler aparece como um pistoleiro animador mas é logo identificado como um potencial guarda costas nesta luta. Mais tarde a história conta as suas origens, revelando a sua natureza de lobisomen que o obrigou a fugir da América, onde seu pai se encontra. Chandler tem uma relação com as suas origens intrigante pois o facto de ser lobisomen acarreta consigo a reprovação do seu pai que o persegue. 

Victor Frankenstein, médico estudioso da morte, une-se nesta jornada pelo fascínio que os "mortos-vivos"/"criaturas da noite" lhe incitam. 

Outra personalidade que vai ganhando destaque é de Dorian Gray, que representa o sonho e o fardo da imortalidade. Além destas, vampiros, bruxas, médicos experimentalistas, psiquiatras que exploram a hipnose como meio de cura para o trauma são personagens que, mais reais ou mais ficcionais, vão testando a nossa sanidade enquanto acompanhamos a luta de fé de Vanessa Ives.

Além do já mencionado, a forma como o universo macabro ficcional e o que relata a história real, nomeadamente a nível da medicina e do pouco que esta explicava na altura, dos tratamentos agressivos a que se dava uso na psiquiatria, une os dois mundos fazendo sempre referência ao que de mais sombrio há na humanidade. Vanessa Ives é a cobaia perfeita dessas duas realidades, procurando na cura médica e na religião consolo para as suas neuroses provenientes de perseguições sobrenaturais. Porém só a segunda é capaz de a confortar e de lhe dar força para enfrentar o "fim dos dias". 
Nesta história, todas as demonstrações de emoções positivas desaguam em desespero e insegurança, tornando-a num carrossel de emoções que volta sempre à estaca zero: a imperfeição humana e a necessidade da fé. 






Comentários