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"James White": um retrato cru da vida de um jovem angustiado



“James White” (2015) envolve-nos na vida atribulada de um jovem adulto na casa dos 20 e tal anos. Após a morte de seu pai James tem de lidar com o reaparecimento do cancro de sua mãe, ao mesmo tempo que luta com os comportamentos auto destrutivos que surgem da negação dos seus sentimentos. O filme parte de uma narrativa realista com a qual nos podemos facilmente identificar, uma vez que a história trata a vida de um jovem urbano com problemas marcadamente contemporâneos: a rejeição do crescimento e das responsabilidades a ele implícitas, usando como refúgio o abuso de álcool e drogas, o excesso de vida noturna e a violência. Apesar de ser uma narrativa aparentemente simples é tratada de forma elegante, tornando o filme numa experiência digna dos 85 minutos que preenche.

“James White” é a primeira longa-metragem realizada por Josh Mond, já conhecido pelas curtas “Kids in Love” (2010) e “1009” (2013), e conta com a participação dos atores Christopher Aboot (James), Cynthia Nixon (Gail White) e Scott Mescudi (Nick). A história surgiu da necessidade do realizador de processar a perda de sua mãe devido a um cancro, em 2011, assim como a participação de Scott Mescudi (a.k.a. Kid Cudi), rapper cujas sonoridades serviram de inspiração a Mond durante o processo de luto e escrita.

O mundo perturbado de James é construído em cores escuras e tons pálidos, numa estética triste com uma iluminação low-key que faz perceber a imensa ausência sentida pela personagem e que só é interrompida com a entrada de Jayne (uma nova namorada) na sua vida, para ser recuperada após a notícia do reaparecimento do cancro de Gail White. A banda sonora, na qual integram músicas de M.O.P., Bad Bad Not Good, Damien Marley e Billie Holliday, expressa também a deambulação entre esses dois sentimentos de esperança e desespero.

“James White” faz-nos vivenciar um circulo de solidão e tristeza, levando-nos até ao fim sem nunca apresentar uma saída desse sentimento, a não ser a sua aceitação. À medida que os acontecimentos vão aumentando de gravidade, nomeadamente quando Gail vai para o hospital e a mandam regressar para casa sem previsão de mais tratamentos, é notável o empenho de James para prevenir que a sua mãe esteja em situações degradantes. As atitudes egoístas que caraterizam James no início do filme dão, por momentos, lugar a uma preocupação com o bem estar da mãe, mostrando o seu amadurecimento.

No início do filme, no funeral do seu ex-marido, Gail White diz a James que está triste e “não faz mal estar triste”. Após a sua morte, no final do filme, James, que aparece quase sempre em planos nervosos e em movimento, é mostrado num close-up estático, no qual não está a fugir mais, como que numa aceitação dos sentimentos negativos dos quais fugia. Face às condições que originaram parece que o filme transpõe muito do que foi vivido pelo realizador, numa interiorização desse lado melancólico e triste da vida que todos têm de lidar mais cedo ou mais tarde.

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