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Le Bazar de la Charité (2019) Original da Netflix retrata o histórico incêndio em Paris


Mais um original Netflix de grande qualidade, "Le Bazar de la Charité" é uma mini série de época cuja história se passa em Paris do séc. XIX, que nos envolve e emociona. Sendo fã de romances e dramas históricos sinto que é por vezes difícil encontrar boas produções que não se limitem à História de Inglaterra. "Le Bazar de la Charité" dá-nos precisamente isso... Um olhar detalhado da alta sociedade parisiense com enredos políticos entre a burguesia e os anarquistas que nos dão uma ideia das tensões vigentes na época e enredos mais pessoais que por vezes quase que são um pouco lamechas, mas não o suficiente para estragar a experiência. É uma produção francesa, criada de uma parceria da Netflix e do canal de televisão TF1, falada integralmente em francês. 

Organizado pela aristocracia católica francesa, o Bazar de la Charité era um evento anual organizado para a compra e venda de vários itens em benefício dos pobres. O evento tinha lugar em Paris, perto dos Campos Elísios, e foi alvo de um grande incêndio, a 4 de maio de 1897, que em apenas em 20 minutos tornou em cinzas todo o edifício e causou cerca de 129 mortes, entre as quais a grande maioria das vítimas foram mulheres da alta sociedade parisiense.  


O espaço construído para albergar o bazar era uma grande estrutura em madeira na qual através de decoração inspirada na Paris Medieval se expunham os itens para serem comprados.  Além disso o evento era casa também de uma grande novidade da época, o cinematógrafo, através do qual os irmãos Lumiére expunham as suas imagens em movimento. Através do aparelho expunham-se os filmes "Sortie de l'usine Lumière à Lyon", "L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat" e "L'Arroseur arrosé".

O cinematógrafo é central para toda a narrativa pois foi no local onde se encontrava que se iniciou o devastador incêndio que rapidamente consumiu tudo e causou tantas mortes. 

É isso que nos é mostrado no primeiro episódio, em que seguimos Alice de Jeansin (interpretada por Camille de Lou) acompanhada pela sua dama de companhia, Rose, e pelo seu noivo Julien de la Ferté (interpretado por Theo Fernandez) na sua visita ao bazar. O ambiente é de animação e relaxe até as chamas se fazerem presentes e começarem a prendê-los dentro do edifício. De repente o terror toma conta das pessoas e enquanto umas ardem vivas outras tentam salvar-se. Após se encontrarem encurralados e perderem toda a esperança, os bombeiros aparecem e Julien, em pânico, tenta salvar-se a si próprio, empurrando Rose para o fogo para poder passar e deixando Alice para trás. Abandonada às chamas, Alice é então salva por um jovem corajoso e elegante da classe trabalhadora. 

Este é o mote que inicia a intriga da série enquanto explora a repressão da mulher na época, através da história de Alice e Adrienne de Lenverpé, a sua tia, que deveria estar no bazar durante a tragédia, mas estava ausente numa sorrateira fuga com o seu amante. Adrienne e Marc-Antoine Lenverpé andavam já há muito com problemas no casamento chegando Adrienne a informar-se sobre o divórcio. Porém à data o divórcio tinha de ser aprovado pelo marido e estava assim fora de hipótese. Quando se depara com os destroços Adrienne aproveita para se fingir de morta, libertando-se do seu casamento.

A série tem sido acusada de alguns exageros para servir a agenda feminina, mas os factos em que se baseia são reais, podendo ter sido alterados para servir o mistério principal da série... Quem iniciou o incêndio e porquê.

Após a tragédia e sob pressão política, pois as eleições estão à porta, o candidato Marc-Antoine de Lanverpé tenta culpar o incêndio nos anarquistas, acusando-os de terrorismo.

Traumatizada com a atitude de Julien, Alice tenta desistir do noivado, ao mesmo tempo que se apaixona por Victor Minville, o rapaz que a salvou e é agora acusado de estar associado ao anarquistas e ter começado o incêndio.

Rose, dada como morta, é raptada pela riquíssima Madame Huchon, cuja filha fora morta pelas chamas e tinha grandes semelhanças com Rose, para a substituir salvaguardando a educação e fortuna do seu neto. Assim a série toca também no tema das classes sociais e como a desgraça dos ricos pode ser a salvação dos pobres.

Apesar de ter alguns clichés e abusar da exploração da emoção aqui e ali, "Le Bazar de la Charité" (2019) apresenta-se como um bom drama histórico, capaz de nos fazer sentir imersos na realidade parisiense com comentários interessantes às estruturas sociais e de género da época.






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