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Klaus (2019)


Amor ou ódio? Compaixão ou ressentimento? Klaus, o recente filme de animação de natal da Netflix, conta a história de uma amizade improvável que deu origem a um certo senhor de barbas comprimidas e vestes vermelhas que conhecemos como Pai Natal. O filme questiona também as bases das nossas relações mais íntimas e, numa luta feroz, quais são os instintos que prevalecem. 

Tudo começa com Jesper, um jovem mimado e egoísta sem objectivos de vida. Para o castigar, o pai de Jesper, dono do serviço de correios, põe-no na academia de carteiros onde deliberadamente se mostra o pior aluno, para poder voltar para a sua vida recheada de mordomias. Não convencido e decidido a dar uma lição ao filho, o pai de Jesper envia-o então para a remota e gelada ilha de Smeerensburg, onde o serviço de correios nunca conseguiu singrar. O ultimato é de que, se não conseguir submeter 6000 cartas no espaço de um ano, vai ser renegado da família e cortado de todos os luxos. 

Jesper chega à ilha e na cidade depara-se com um cenário desolador. Tons de cinzento e branco cobrem toda a paisagem e caras desconfiadas e culpadas escondem-se nas esquinas. O sentimento é de tudo menos de acolhimento. É assustador. Tudo o que quer é conseguir entregar as 6000 cartas o mais rápido possível e voltar para casa. Mas isso não é tarefa fácil, porque a população da cidade é historicamente alimentada por ódio e ressentimento. Assim, os clãs estão claramente divididos e tudo o que é permitido é fazer maldades uns aos outros. É socialmente inaceitável que as crianças comuniquem ou brinquem entre si. Porque iria uma cidade destas ter necessidade de enviar cartas, se tudo o que necessita para comunicar está ao alcance de uma partida maldosa? 

É quando Jesper se apercebe, ao olhar para o mapa da zona, que há uma misteriosa cabine no topo da montanha. Ao visitá-la, depara-se com um estúdio de carpinteiro, repleto de brinquedos. Presente, uma figura alta, forte e de grandes barbas brancas, que reage ao ver um desenho tristonho que Jesper tinha apanhado de uma criança isolada. Sem dar grandes explicações, o homem grande obriga o carteiro a entregar um brinquedo à criança, despoletando uma total felicidade e deslumbramento, raros por aquelas zonas. 

Ao ouvir que Klaus, o carpinteiro das montanhas, respondia às cartas que recebia com brinquedos, todas as crianças começaram a procurar o carteiro local para lhe enviar pedidos. E finalmente Jesper começa a ir na direção do seu objetivo, as 6000 cartas que lhe vão dar o bilhete de volta para casa. 

Mas mais do que brinquedos ou de meios para um fim, começa a dar-se uma enorme mudança naquela pequena sociedade. As crianças juntam-se para brincar com os presentes que recebem e as que não sabem escrever procuram a escola, esquecendo as lutas e guerras cuja origem já ninguém se lembra. Os próprios adultos começam a colaborar e conviver. 

"Klaus" é uma história de Natal que incluí todos os elementos imaginários que lhe associamos mas não se deixa cair em clichés fáceis. Explora a dor e a mágoa, a perda e a solidão. Explora a bondade e a necessidade de acreditar para se conseguir construir um futuro melhor. Além disso, é um filme com ilustrações muito bonitas.


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