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Joker (2019) de Todd Phillips

 
O que separa o humor da maldade? Onde está a linha que define? Joker não é um filme de super heróis. Na verdade, não podia ser mais humano. Todd Phillips apresenta um filme profundamente tocante, que questiona a sociedade, personagens que crescemos a saber que eram "do bem" e, acima de tudo, questiona-nos a nós próprios.

Joaquim Phoenix é brilhante. Por mim pode levar o Óscar para casa. Interpreta o vilão de uma forma totalmente multidimensional, levando-nos da maior vulnerabilidade à completa loucura. Vilão que neste filme é o underdog, e ao qual desejei o maior sucesso e empoderamento.
Arthur é uma pessoa triste e solitária, com uma vida simples. Trabalha precariamente como palhaço em animações de hospitais e lojas e toma conta da sua fragilizada mãe, que tem a sua autonomia limitada devido ao estado de doença.

O filme começa logo com uma cena cruel, em que Arthur é espancado por um bando de adolescentes após lhe terem roubado o sinal de descontos que manuseava à porta de uma loja em liquidação total. O cenário é uma Gotham suja e abandonada, com as pessoas cada vez mais revoltadas contra os poderosos e ricos e entregues à lei do mais forte.

Mentalmente instável, Arthur procura o apoio da assistente social responsável pelo seu caso para lhe aumentar a medicação, mas é informado que o programa de reinserção vai ser cancelado devido à falta de financiamento. Assim, a única ajuda que obtém é a do seu patrão, que lhe oferece uma arma branca para se defender de futuros ataques.

É fácil relacionarmo-nos com uma realidade que nega o sofrimento alheio, colocando a burocracia e o poder acima de tudo e todos.
Começa então a história de um homem com uma doença mental que tem necessidade de se defender pela força e violência, por falta de apoio da sociedade em geral. Em nenhum momento nos sentimos moralmente superiores a Joker, apesar da crueldade que vai crescendo, pois esta vai aumentando à medida que a crueldade externa de que ele é alvo aumenta também. Sente-se uma empatia enorme pelo personagem e acabamos por querer que ele vingue. Há precisamente uma cena em que a acção e o diálogo põem em questão a audiência quando nos faz rir e logo nos questiona se o deveriamos fazer, sendo o Joker a "única pessoa que sempre tratou bem" a personagem atingida, nas suas próprias palavras. Assim, ele torna-se num símbolo da revolta dos cidadãos de Gotham.
Além de tudo isto, que torna o filme numa experiência psicológica muito bem composta, a composição de cada plano é digna de clicar em pause a ser admirada. A escolha da palete cromática e a maneira como os personagens se inserem no ambiente é harmoniosa e bonita. Rude e cruel, mas muito bonita.

Os momentos de tensão e libertação são muito bem estudados, conseguindo criar momentos de horror e de comédia totalmente encadeados um no outro, fazendo sentir a loucura que é o cerne do filme.
Joker (2019) é a prova que se pode fazer muito mais do que espetáculos de efeitos especiais com personagens e histórias oriundas da banda desenhada. É uma reinterpretação perfeita, capaz de nos ligar à fantasia através do mais humano sofrimento: a solidão e o isolamento.

Comentários

  1. "Madness is like gravity. All it takes is a little push." Brilhante Catarina!

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