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Tolkien (2019): Uma biografia do génio que criou a fantasia moderna

Tolkien (2019), escrito por David Gleeson e Stephen Beresford e realizado por Dome Karukoski, mostra-nos a vida do autor que revolucionou o género literário de fantasia, dando origem à fantasia moderna. É a referência dos grandes autores do género contemporâneos, incluindo George R. R. Martin, criador da saga de sucesso "A song of Ice and Fire".

Os filmes baseados na obra do autor cativaram a imaginação de uma geração inteira, senão mais, com as triologias de "O Senhor dos Anéis" e " The Hobbit", recheadas de magia e fantasia, mas acima de tudo de valores como a amizade e o companheirismo. Por isso quando vi o trailer não consegui deixar de sentir uma enorme excitação por ver um retrato biográfico de uma mente tão singular. Além de que me tinha iniciado recentemente na sua obra literária com "Beren and Luthien".

A escolha do ator para interpretar John Ronald Ruel Tolkien agradou-me. Nicholas Hoult tem o perfil pedido para o papel e já deu provas quando interpretou o escritor J.D. Salinger em "Rebel in the Rye" (2017). A escolha de Lily Collins, para Edith, também me pareceu acertada, uma vez que atriz possui a elegância a sensibilidade que o papel pede.

No entanto, não consigo deixar de sentir que o filme foi desperdiçado. Enquanto biografia, ele funciona, apesar de deixar alguns factos completamente de fora, como é o caso da amizade que J. R. R. Tolkien manteve, durante décadas, com C. S. Lewis, autor das "Crónicas de Nárnia", e que provavelmente seria importante para mostrar como se desenvolveram as suas ideias e como evoluiu o seu pensamento literário.

Mas o filme pouco se foca na literatura de Tolkien. Por várias vezes a menciona e ao facto de muito jovem ter criado uma Língua inteira. Mas nunca entrega ou concretiza. Assim, mostra como ficou orfão e foi entregue aos cuidados da Igreja Católica, como se apaixonou por Edith numa casa de acolhimento e como a participação na Primeira Grande Guerra o afetou e influenciou.
Mostra os seus anos de jovem com o grupo de amigos que formava o TSCB (Tea Club Barrowian Society), no qual pensavam a arte, criavam e acreditavam no seu poder transformador. Retrata também os seus anos de estudante em Oxford.
Mas para o retrato de uma mente tão frutífera penso que o filme é simplesmente seco. Percebo que criadores se tenham tentado focar nos factos da vida do autor mas a Obra de Tolkien foi a Vida de Tolkien, como o próprio assume quando no seu túmulo e de Edith assina com o nome das suas personagens. Por isso acho simplesmente impossível desassociar uma coisa da outra.

Assim, o filme parece pouco. Não é mau. Mas é pouco. As referências à fantasia que faz são todas entregues no trailer, que nos cativa por prometer mostrar mais. Mas depois não mostra. Eu queria saber as subjetividades e interpretações que Tolkien fazia do mundo. Queria entrar na sua mente e perceber o que o inspirava a escrever todos os textos que escreveu e o riquíssimo universo fantástico que criou, com uma história própria e cheia de pormenores, personagens, mitos e lendas. Eu sei que para isso temos os livros e os filmes que neles são inspirados, mas além das obras, eu queria conhecer a mente por detrás e que me respondessem à pergunta do que é que motiva e inspira tamanho feito. E essa é uma pergunta à qual o filme não responde, não conseguindo fazer jus à personalidade em que retrata.


Ainda assim, o filme tem bom acting e boa direção de fotografia. Tem planos bonitos e que evocam os filmes de "O Senhor dos Anéis" e "The Hobbit", fazendo o mínimo que é essa ponte visual. Tem momentos comoventes e aborda de forma delicada temas como a família, a amizade e o amor.  Não é um total desperdício, só é pena não fazer mais.




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