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Mary Queen Of Scots (2018) de Josie Rourke


Quando queremos falar de intrigas é difícil superar um bom drama histórico dedicado à realeza. Desde a caraterização aos maneirismos, costumes e extravagância, um número limitado de pessoas a viver numa corte, onde todas as outras cortes são amigas ou inimigas, é a conjuntura perfeita para enredos pessoais. 

A história de Mary Stuart (Maria) não tem falta de representações no ecrã, seja no grande (" Mary Of Scotland" (1936), "Mary Queen Of Scots" (1971), "Mary Queen Of Scots" (2013) ), ou na televisão ("Gun powder, Treason & Plot" (2004) e "Reign" (2013) ). Além disso, não foras também poucas já as vezes que a história foi contada pela perspectiva da Rainha Elizabeth (Isabel) ( "Elizabeth" (1998), "Elizabeth - The Golden Age" (2007) ). Por isso, mesmo dada ao entusiasmo que inicialmente o trailer de "Mary Queen of Scots" (2018) me gerou, questionei desde logo o que mais poderia acrescentar. 


O certo é que a história das duas primas, uma a reinar em Inglaterra e outra na Escócia, ambas com direito ao trono de Inglaterra, não deixa nunca de ser uma história sobre duas mulheres poderosas e rivais, ameaçadas pelos homens que as rodeiam e que, mesmo sendo inimigas, tiveram necessidade de se proteger. E nesse sentido torna-se um conto intemporal, capaz de transmitir a infindável força feminina, tanto pelo lado da rainha escocesa como da inglesa. 

O filme de Josie Rourke, que é a sua estreia cinematográfica, conta com duas atrizes fabulosas. Saoirse Ronan (vencedora de um Globo de Ouro pela sua prestação em "Lady Bird", no ano passado) incarna Mary, tomando assim conta do papel principal que dá título à obra. A história começa quando Mary de dirige à sua sentença, assinada pela prima, Elisabeth (a quem Margot Robbie dá vida), e logo nos leva num flashback que conta o desenrolar dos eventos que levaram a esse destino. Assim, Mary retorna à Escócia com 18 anos, depois de ter sido rainha de França e o seu marido, o Rei, ter falecido precocemente. Numa guerra religiosa entre católicos e protestantes, a rainha católica tem de garantir a paz do seu reino, o qual deixou aos 5 anos de idade para viver na corte francesa. 

Mary é nos apresentada como uma jovem determinada, corajosa e confiante, por oposição à sua rival paranóica, amedrontada e insegura. Porém quando confrontada com esse contraste, Mary afirma "os medos dela são sábios" e mais tarde "devia ter sido mais como tu, não ter casado e mantido o meu trono". 

O filme realça o facto de Mary acreditar, sem motivos aparentes (a não ser o da sua ascendência) que tem mais direito a reinar sobre Inglaterra do que Elisabeth. Sendo Inglaterra um país protestante, repudiando a ideia de uma rainha católica, essa atitude é-nos mostrada com uma certa arrogância e imaturidade de Mary, possivelmente um dos motivos que a levou ao seu penoso desfecho. 

Relativamente factos históricos, que foram já alvo de críticas por parte de historiadores, sobressai o de Mary e Elisabeth nunca se terem na realidade encontrado. O encontro apresentado, numa cabana num campo inglês aquando o exílio de Mary, acontece porque a dramatização assim o pediu. Além de não ser real, a forma como nos é dado a ver é um bocado rebuscada. Mary e Elisabeth encontram-se e desencontram-se entre lençóis estendidos numa pequena cabana, o que na realidade parece muito pouco plausível apesar de poder ter provavelmente intenção poética. Além disso, outras liberdades foram tomadas,  como a relativa ao segundo marido de Mary, Lord Darnley cuja veracidade dos envolvimentos homossexuais são alvo de discussão. 

Do ponto de vista da fotografia temos espaços amplos e abertos em oposição a interiores sufocantes. Campos verdejantes e solarengos contrastam com os interiores escuros e abafados dos palácios. O vermelho, escolhido cuidadosamente para um destino já conhecido, tem o lugar principal quando uma das aias de Mary a lava, e no final quando teatralmente a rainha rasga o seu vestido escuro e se entrega à decapitação com um vestido vermelho vivo, salvaguardando o trono inglês e escocês para o seu filho James VI. Os close-ups de Elisabeth, cuja face passa a estar horripilantemente escondida debaixo de pó branco após ser vítima de varíola, fazem com que a sua beleza esvaneça ao mesmo passo que as suas ações se revelam e os seus medos crescem. 





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