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Life Is Strange 2 excede-se ao tocar em temáticas sociais como a xenofobia, a homofobia, a injustiça social e o fanatismo religioso.

Quando falamos de videojogos que fazem uso de narrativas interativas "Life Is Strange" (2015), desenvolvido pelo estúdio francês Dontnod Entertainment e publicado pela Square Enix, vem logo á ideia. A história da jovem estudante de fotografia Maxine que descobre que tem a habilidade de voltar atrás no tempo fazendo com que cada uma das suas escolhas desencadeie um efeito borboleta comoveu e deixou muitos jogadores a chorar por mais.

"Life Is Strange 2" (2019) é um pouco diferente, mas mantém muita da sua essência e excede-se ao tocar em temáticas sociais como a xenofobia, a homofobia, a injustiça social e o fanatismo religioso. É composto por 5 episódios e é jogado em perspectiva de 3ª pessoa. 

Os eventos do jogo ocorrem após a destruição de Arcadia Bay (no primeiro volume) e a história apresenta-nos á vida de dois irmãos,  Sean de 16 anos e Daniel de 10, descendentes de pai mexicano e mãe americana, que cedo os abandonou. Residentes em Seattle, levam uma vida bastante normal para as suas idades. Na véspera de Halloween, Daniel é apanhado de surpresa por um vizinho que o assusta despoletando assim uma luta entre os dois, na qual o vizinho de Daniel acaba batendo com a cabeça numa rocha e morrer. O pai de Sean e Daniel, ao tentar acudir, é erradamente confundido com uma pessoa perigosa e acaba sendo abatido a tiro pelas autoridades locais.

Quem não quiser saber o resto da história pode parar de ler por aqui e fique a saber que sim, vale muito a pena experimentar!
Apanhados no meio de uma grande confusão que acaba por matar o seu pai,  Daniel descobre ao se defender que tem a capacidade de movimentar objetos e Sean decide que devem fugir, com medo que as autoridades levem o irmão para um reformatório, afastando-o do único membro da família que agora tem e pelo qual se sente responsável.

Os dois irmãos embarcam numa viagem á parte da sociedade, em plena fuga das autoridades, sempre a lutar pela sobrevivência. O destino é Puerto Luebos, no México, berço do seu pai, o que inicia uma narrativa que questiona acepções de raça e nacionalidade. Quando muitos mexicanos só querem passar para os EUA, Sean e Daniel só querem voltar às suas "raízes". 

Várias são as vezes que a ascendência dos dois rapazes é o foco da história, chegando eles a ser violentamente agredidos por essa mesma razão. Sean e Daniel nasceram na América, mas aos olhos de muitos não é lá que pertencem. E é assim que história faz uso da empatia para nos alertar das injustiças que muitas vezes ocorrem e vemos proliferar.

A jogabilidade é muito similar a "Life Is Strange" (2015), porém a história é linear, sem viagens no tempo. Jogamos com Sean e temos de ir cuidando e treinando Daniel e fazemos escolhas em vários pontos essenciais da narrativa que terão impacto mais tarde, enquanto exploramos o mundo, manipulamos objetos e conversamos com diversos personagens interessantes.

Um dos settings que mais me agradou foi quando os irmãos chegaram a uma plantação de erva para trabalhar, ficando alojados num acampamento hippie. Podemos ter diálogos filosóficos, inseridos numa árvore de conversação, com os restantes membros da comunidade acerca de temas como a importância da sociedade ou a sua natureza, as restrições á sexualidade e o absurdo das proibições das drogas leves, mais uma vez tocando em temas pertinentes da nossa atualidade. 

"Life Is Strange 2" (2019) é mais do que puro entretenimento, pois toca em temáticas difíceis e apresenta situações que nos questionam. Como não poderia deixar de ser, fá-lo enquanto nos apresenta quadros maravilhosos, com imagens repletas de cor, textura e variedade de cenários.



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