Avançar para o conteúdo principal

Gris (2018)


Gris é um autêntico deleite. Não foi à toa que ganhou o Best Visual Art Award 2019 da GDC. O jogo, desenvolvido pelo recente Nomad Studios,  com sede em Barcelona, prima pela simplicidade na jogabilidade e foca-se na beleza dos ambientes visuais e sonoros.

A história é totalmente conceptual,  falando através dos cenários, dos sons,  das cores e das acções.  Não há diálogos ou uma narrativa explícita,  o que a deixa aberta a interpretações.  No entanto, o jogo segue  a nossa personagem, uma menina que perde a sua voz e cuja jornada se inicia num mundo a preto e branco. A nossa missão é ir desbloqueando as cores que dão nome aos capítulos,  preenchendo de cor um mundo de aguarelas que tinha ficado monocromático.  A premissa evoca algum tipo de trauma ou depressão, de uma forma suficientemente abstrata para que nos consigamos ligar emocionalmente. 
E se o jogo nos começa a parecer solitário e triste,  explorando os níveis com o único ser animado que vemos, rapidamente fazemos um  pequeno amigo que imita os nossos comportamentos e desbloqueia caminhos, dando um ar de graça a um mundo que começa depois a ser habitado por diversas criaturas.

Se Gris (2018 lembra Hue (2016) n objetivo de desbloquear as cores e colorir um mundo cinzento, e Child Of Light (2014) pela personagem e pelo ambiente visual e sonoro, lembra ainda Journey (2012) por toda a experiência sensorial. Mas na junção dos seus elementos, é uma obra totalmente original.


Gris apresenta-se como uma experiência para ser usufruída enquanto se medita e relaxa.  Não se pode perder ou morrer. Todo o jogo é uma experiência fluída que chama às nossas capacidades de contemplação ao invés de grandes desafios.  No entanto, tem também momentos de tensão, no final de cada capítulo em que, apesar de não existir um boss que apresente perigo para a personagem, aparecem figuras capazes de fazer sentir o seu medo e a confusão.

Se tenho algo a apontar é que o jogo é por vezes um bocado confuso,  exigindo uma atenção redobrada do jogador para distinguir partes do cenário e até para onde tem de se mover. Não é dado recurso a tutoriais e as habilidades são mostradas como utilizar apenas uma vez. Como indicação do percurso, temos os movimentos de câmara em cada check-point, que indicam para onde nos devemos mover. 




Gris ganha por toda a subtileza e sensibilidade com que se apresenta. Visualmente é maravilhoso, mas sonoramente também. A banda sonora foi entregue à banda catalã Berlinist e compõe-se de melodias suaves e etéreas, dignas de um mundo de sonho. Certamente gostava de jogar mais jogos deste tipo.

Comentários